O que é este Blogue?

Quando se junta uma amálgama de palavras, um conto ou um poema podem sempre emergir. A sua divulgação fará que não morram esconsos numa escura e funda gaveta. Daí que às minhas palavras quero juntar as de outros que desejem participar. Os meus trabalhos estão publicados sob o pseudónimo: "Lobitino Almeida N'gola". Nas fotos e pinturas cliquem nos nomes e acedam às fontes.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Conto angolano 4: O Coelho e o Macaco


"Óscar Ribas"
(Desenho de Manuela Alegre)
.
O Coelho e o Macaco*

Amigo Macaco procurou o amigo Coelho e disse-lhe:
– Vavó Leoa teve filhos! Como ela só está bem a matar vamo-nos oferecer para lhe criar os filhos. Depois matamo-los à fome, e a ela também.
Amigo Coelho achou bem. Mas quando se apresentaram a avó Leoa quis matá-los.
Aiii, vavó, não nos coma só, somos crianças, a nossa carne não chega para te acabar a fome! Se queres, vamos-te buscar os maiores, como vavô Pacaça, tio Javali e outros… Suplicaram ambos.
Avó Leoa aquiesceu.
– E vavó, para eles virem, tens de te fingir morta, envolvida em capim. Alvitrou amigo Macaco.
Os dois, colocando-se à porta de casa, começaram a tocar uma goma, cantando:
Morreu vavó Leoa,
Livres ficámos!
Morreu vavó Leoa,
Livres ficámos!
A bicharada, ouvindo tal cantiga, tão satisfeita ficou, que até se pôs a dançar dentro do quarto. Hela! Vavó Leoa morta! Até parecia mentira! E todos, em redor do monte de capim, dançavam, dançavam, dançavam.
Amigo Coelho e amigo Macaco, já a batucada ia rija, saem e fecham a porta. Avó Leoa salta do capim, e nhão-nhão-nhão – mata aqui, mata ali, mata a todos eles. Não satisfeita com o morticínio, vai ter com o amigo Coelho e amigo Macaco, igualmente para os matar.
– Ai, vavó, não nos mates só, a gente vai-te buscar lenha para assares esta carne toda! Aiii, não queres? – Propõe amigo Macaco.
Avó Leoa concordou. E os dois foram ao mato. Mas avô Quitassele quis comê-los.
– Ai vavô não nos mates só, espera que te trazemos um grandalhão como tu. Somos crianças, não temos carne para ti. – Rogou o amigo Macaco.
A serpente anuiu.
– Vavó, estávamos para ser comidos por vavô Quitassele. O melhor é ires connosco. – Informou amigo Macaco.
Avó Leoa foi. Ao chegarem, amigo Macaco avisa avô Quitassele:
– O grandalhão como tu já cá está.
Avô Quitassele sai do esconderijo e mata avó Leoa.
– Vavô em casa tem muita carne. Vamos prepará-la. – Convida amigo Macaco.
Os três vão para casa. Mas amigo Coelho e amigo Macaco carretam lenha.
– Vavô agora é preciso fogo. Vamos nas lavras. – Alvitra amigo Macaco.
As pessoas, vendo a cobra, deitaram a fugir:
– Cobra! Cobra!
Aproveitando a fuga, amigo Macaco aconselha:
– Vavô, acenda já.
A serpente que trazia capim na cauda e cabeça, virou primeiro uma parte, depois a outra. E avô Quitassele morreu queimado.

*Óscar Ribas*
*(escritor e etnólogo angolano (1909-2004); conto retirado do Afroletras, nº. 3, Fev. 2000)

Sem comentários: