O que é este Blogue?

Quando se junta uma amálgama de palavras, um conto ou um poema podem sempre emergir. A sua divulgação fará que não morram esconsos numa escura e funda gaveta. Daí que às minhas palavras quero juntar as de outros que desejem participar. Os meus trabalhos estão publicados sob o pseudónimo: "Lobitino Almeida N'gola". Nas fotos e pinturas cliquem nos nomes e acedam às fontes.

sexta-feira, março 03, 2006

Pobreza

(Mucancalas no árido deserto do Namibe)
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Pobreza*

Ser pobre faz parte da vida
Porque nesse mundo, ninguém tem tudo
Muitos têm o que não queriam ter
E poucos têm o que gostariam ter
Não devia assim ser.
Mas isso faz parte do nosso ser
Ser pobre não é passar a noite com fome
Ter o dia vivido em lamentos
Conviver apenas com muito tormento
Não é termos uma casa de chapa
Trocando carro com uma trote
Ou então uma bina¹
Não é querer estudar
e não ter dinheiro para propina
Não é dormir numa esteira
Em vez do colchão de mola
Ser pobre, não é vestir roupas com remendo
Andar descalço
Adoentar sem ter como ir ao médico.
Comer algo deteriorado
Porque ninguém olha para o consumidor
Não é emigrar pelo mundo fora
Suportando toda dor
Não é ser jogador,
sem ir para liga milionária
Ser pobre, não é ter medo de sair à rua
Com medo de ser pedida gasosa
Não andar fora de hora
Com medo de perder a vida
Andar a vida inteira a pé
Sem aparecer quem nos dê pelo menos boleia
Viver em casa de renda
Sem saber quando construir a sua
Suportar uma pessoa chata
Aturando toda sua tralha
Até os mujimbos², sem esquecer as porcarias
Só porque o tal, é patrão
e tudo está em sua mão
Tudo isso passa de uma desilusão
Mas está longe de ser o pobre.
Ser pobre, pode ser coisa simples
Ser pobre é ter a vida na boa
Pensando que somos os melhores no mundo
Valentes e importantes
É comer e deitar o que sobrou, mesmo sabendo
que na rua, há quem morra de fome
Andar na rua como não me toques
Abusar, bater sem mais e nem menos
Armar-se em vaidoso.
É termos um carro, sem podermos dar uma boleia ao vizinho
Socorrer um doente em agonia
Passar por conhecidos
E aumentar a velocidade de propósito
Esquecer os antigos amigos
Por fazerem parte do clube dos acabados
Incluindo alguns
Que se calhar te deram jeito na vida
É aterrorizar uma rua, bairro ou cidade
Só porque o pai, mãe, ,tio, mano ou outro braço direito
Pertence à elite onde muitos são chamados,
mas poucos escolhidos
É ser comandado por uma preguiça
Se perder antes de partir
Ter a possibilidade de estudar
E esbanjar a sorte aos molhos
É ter medo de partir
Mesmo sabendo que o caminho espera por ti
Não construir uma casa
Porque alguém paga-nos o hotel
Contratar guardas, governantas e mais
Para mostrar que somos demais
Ser pobre, é ter o bolso cheio
Mas ter a mão pesada para uma doação
Por fim, é ver o mal nascer
E ainda ser a fonte do seu crescer
Ser pobre é olhar o outro com inveja
Mesmo que seja por beber uma cerveja
Lutar para subir
Pondo os outros a cairem em cascas de bananas
Ficando às avessas
Ser pobre não é ter algo a faltar
É ter o que nos falta, sem poder parar…

*Luís Miguel*
*(jovem poeta angolano, 28.09.2005 - ¹bicicleta; ²boatos)

1 comentário:

Márcia Maia disse...

Vim por a leitura em dia e conhecer novos poetas.
Um beijo daqui, do outro lado do mar.