O que é este Blogue?

Quando se junta uma amálgama de palavras, um conto ou um poema podem sempre emergir. A sua divulgação fará que não morram esconsos numa escura e funda gaveta. Daí que às minhas palavras quero juntar as de outros que desejem participar. Os meus trabalhos estão publicados sob o pseudónimo: "Lobitino Almeida N'gola". Nas fotos e pinturas cliquem nos nomes e acedam às fontes.

quinta-feira, junho 15, 2006

Uma estrada para um Vinhais desertificado ou desrespeito humano?

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Ponte sobre o rio que banha Rio Onor
(Foto do espólio da
C.M. Bragança)

Uma estrada para um Vinhais desertificado ou desrespeito humano?*

Este pedaço de estrada até Vinhais é curva e mais curva, num carrossel que nos obriga a estar tentos e não ter pressa. Aldeia após aldeia, vou-me apercebendo da precariedade da vida por estes sítios. E admiramo-nos que a desertificação das regiões interiores seja galopante!
Quem aqui vive não se pode dar ao luxo de ter um doença súbita que exija cuidados médicos urgentes. Uma grávida dará certamente à luz o rebento pelo caminho.
Qual não será a angústia dos pais se tiverem uma criança doente ou vítima de acidente? Isto é longe do mínimo cuidado imprescindível. Dou razão ao meu filho mais velho, quando insiste em me dizer que o computador pode salvar vidas e é mais útil do que aquilo para que muita gente o usa. Realmente, se nestas terras com acessos difíceis as Juntas de Freguesias estivessem equipadas com computadores ligados aos serviços de urgência de um grande hospital, em caso de emergência, poder-se-ia actuar mais rapidamente. Mas para esta solução funcionar era exigível que existisse um médico ou paramédico e uma pequena estrutura funcional que pudesse providenciar os cuidados urgentes necessários. Damo-nos conta que não há recursos humanos com preparação bastante para uma solução que economizaria vidas humanas, dinheiros, infelicidade e angústia.
Estranho país este que continua a ser maioritariamente paisagem para inglês ver!
Não seria mais pragmático e sustentável criar as condições básicas do que permitir que as nossa cidades vão tendo todas elas as suas Reboleiras e Damaias? E as consequências indesejáveis que o crescimento urbano descontrolado acarreta? Desertifica-se de um lado a terra e cria-se, por outro, a desertificação interior do ser humano!
E não haveríamos de ser um país deprimido?!
Torram-se as matas e florestas do país e cultiva-se sardinheiras nas janelas dos prédios porque as plantas criam a ilusão de qualidade de vida na cidade. E a publicidade imobiliária ainda vinca bem que está a levar a natureza para o coração da cidade!!!
Somos tão amigos dos animais que até temos boutiques com roupa para o melhor amigo do homem! E devastamos o habitat dos esquilos, coelhos, perdizes, javalis, lobos, linces, pombos e sei lá que outros! Nós, os animais racionais somos os mais idiotas da criação! A água está poluída. O ar poluído está. A terra desprezada. E nós todos acumuladinhos a ouvir o autoclismo do vizinho a disparar num qualquer dos muitos apartamentos do prédio que habitamos. Sociedade evoluída a nossa! Será o stress uma condição de vida moderna ou será o reflexo da nossa falta de inteligência, da nossa insanidade social?
(…) Os cataclismos mais não são do que a Natureza a assinalar que está saturada, invadida, e, quando assim é, ela expurga-se , elimina os mais fracos e deixa os sobreviventes aprender de novo, desbravar uma nova vida, indiferente às dores , às perdas e aos desgostos de cada um. Quem a respeita? O respeito tem de ser recíproco. Como exigir o que não se dá? Quem pode pedir a devolução do que não entregou?

*Fátima Pinto Ferreira*
*(escritora portuguesa; extracto do livro “São Judas Iscariote” edições Cosmos, 2006)

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito obrigada pela citação que faz ao meu livro e por tudo o que aqui não caberá.

Com amizade.

Fátima

Fernando Ribeiro disse...

Antes de mais nada quero manifestar a minha total concordância com o texto reproduzido. Já não vou a Vinhais há uns 4 ou 5 anos, mas as curvas da estrada ficaram-me na memória. Verifiquei, no entanto, que algumas dessas curvas estavam a ser rectificadas, pelo menos entre Vinhais e Bragança. Mesmo assim, do que Vinhais precisa, é de uma estrada nova, não de remendos na velha. Enfim, este é um mal de que ainda padecem muitas localidades transmontanas, infelizmente.

Amigo Eugénio, tanto Vinhais como Rio de Onor, são ambas localidades de Trás-os-Montes, é verdade, mas elas distam uma da outra muitas dezenas de quilómetros. Além do mais, a estrada de Vinhais não passa por Rio de Onor, nem passa, por maioria de razão, pela bela e rústica ponte que ilustra o artigo. Vinhais e Rio de Onor ficam em lados opostos relativamente à cidade de Bragança.

Pode ser encontrada uma fotografia de Vinhais aqui. Se não me falha a memória, o complexo monumental que se vê nesta imagem fica sobranceiro à estrada, que lhe passa um pouco mais abaixo. Como se vê, Vinhais é uma vila muito bonita, mas mais bonita ainda é a paisagem que de Vinhais se tem. É uma paisagem deslumbrante, pois a vila, situada numa encosta, é um miradouro privilegiado. Vale a pena lá ir.

Também vale a pena ir a Rio de Onor, já agora. A estrada que serve esta linda e típica aldeia não tem tantas curvas como a estrada de Vinhais, nem pouco mais ou menos. A ponte que se vê na imagem fica no lado português da aldeia. Se dermos uma volta pelas ruas de Rio de Onor, talvez possamos escutar alguém falar no dialecto local, que não é português, nem castelhano, mas sim um dialecto asturo-leonês muito semelhante ao mirandês. Se "apanharmos" as pessoas de surpresa tanto melhor, pois os rionoreses costumam passar a falar em português assim que vêem que um forasteiro se aproxima deles.

Quanto à legenda da fotografia da ponte de Rio de Onor, é óbvio que o rio que banha Rio de Onor se chama Rio de Onor também... Espero que o meu amigo não leve a mal este comentário.

Para terminar, aproveito para sugerir a quem me lê uma viagem até Trás-os-Montes, nas férias que agora se aproximam. Porque não? Não há confusões nem apertos, bebe-se do bom e come-se do melhor, as pessoas são hospitaleiras e francas (ou não fossem elas transmontanas...), as cidades, vilas e aldeias são muito bonitas, das paisagens nem se fala, etc. Garanto que serão umas férias inesquecíveis.